Q.A:
Por uns dias me esqueci quem eu era. Minhas necessidades urbanas se abrandaram, um pouco. Da beirada segura do navio, pude assistir a um culto religioso, com muita cantoria, em um dos domingos que passei fora. Era uma Igreja de tabuas corridas e chão batido.
Todos usavam suas melhores roupas. E se digo isso, é porque sei, pois andei olhando os varais, durante o dia. Ninguém parecia incomodar-se com a quantidade enorme de insetos. O vilarejo estava ás escuras, exceto na Igrejinha e aos poucos iam chegando os fiéis, com a Bíblia na mão. A mulherada, algumas de cabelo comprido até a cintura, trataram de domar o ondulado dos fios, com uma espécie de óleo que os fazia grudar na cabeça.
Enquanto isso, mesmo no escuro da noite, as crianças brincavam de correr e jogar areia uns nos outros, sem se importar com os bichos.
E havia uma senhora, que habitava uma maloca de bambús, que parecia ser uma espécie de líder comunitária local. O pouco que tinha dividia com seus filhos naturais e adotivos. O menor foi submetido a uma pequena cirurgia, em que foi necessário extrair todos os dentes anteriores, pois que na verdade eram apenas cacos de raizes dentais. Ainda que não fossem permanentes, foi lamentável a perda.
Mas não estou hoje para falar de dentes, mas de encontros. De como fui feliz afastando-me de tudo o que costumeiramente faço. De ver o que vi, comer o que comi, conviver com quem convivi, com muita determinação.
De verdade, senti falta de muitas poucas coisas, tendo conhecido pessoas que tinham muitíssimo menos.
Ainda que eu ame tudo o que tenho e construí, sei que posso fazer tudo de forma diferente, se algum dia, desejar. Todo mundo pode.
Foram essas as coisas que me mostraram as pessoas que encontrei, e com quem na verdade troquei conhecimentos, assim que me propuz a ajudar, apenas tratando de trabalhar honestamente e tendo os olhos e coração abertos para o que se apresentar.
Beijos,
Márcia.
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