Depois de cumpridas suas obrigações pessoais, para com a sociedade, a família e sabe-se lá mais com o quê, chega a hora do dia (ou da madrugada) em que sua sala lhe pertence, no mais absoluto silêncio. Nessa hora, em determinada poltrona, abre-se um livro e...
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
História de Goiás
A curiosidade é o que me move, sempre pesquisando, para saber exatamente onde estive,onde estou agora. Que casas são as que vejo, quem morou ali, o que aconteceu com as pessoas de determinado lugar, quase como se ouvisse suas vozes, suas risadas e lamentos.
A melhor maneira de se conhecer uma cidade histórica é em primeiro lugar , visitá-la fora da alta temporada. Além de mais barato, evita que as multidões lhe cansem os ouvidos e a vista, tirando o foco do que interessa. sair à noite, em companhia de alguém que também goste disso e embrenharem-se pelos becos e ruelas, ouvido os latidos dos cães, os televisores nas salas, o vento.
No caso de Goiás Velho, eu e minha destemida mãe, vimos através de janelões abertos para a rua, o cotidiano simples das pessoas.Também as pessoas se punham, de cadeiras nas calçadas, para ver. Caminhamos pelo centro histórico, ruas pavimentadas de pedras, com todas as Igrejas fechadas, fomos até a Igreja Nossa Senhora do Rosário, em cujos portões haviam cadeados, infelizmente. Essa Igreja foi construída no lugar da Igreja dos pretos, derrubada na tentativa, talvez, de apagar a lembrança da segregação racial na casa de Deus.
Vimos por fora o quartel do 20º Btl de Infantaria, iluminado, de onde soldados brasileiros saíram para a guerra do Paraguai. Aliás, guerra da Tríplice Aliança, como agora deve ser chamada.
Saímos encantadas com o que vimos, com tudo o que gulosamente comemos, o arroz de pequi, as comidas que me fizeram lembrar um pouco as de Minas Gerais, principalmente a maneira de prepara o Leitão e também as quitandas, que são os biscoitos amanteigados, e os doces em caldas, feitos por inúmeras doceiras, que fizemos questão de visitar.
Esta linda cidade foi berço da cultura goiana, nasceu graças á uma crença renascentista que dizia que as minas de ouro encontravam-se todas alinhadas ao Equador. Assim, tendo sido encontrado de um lado, as minas de Cuiabá e de outro, as de Minas Gerais, parecia óbvio que entre esses dois pontos também houvesse tal riqueza.
Assim chegaram os bandeirantes, principalmente os paulistas, encontrando a nação de índios Goiá, que trataram de dizimar, para tomar posse de suas minas.
O Arraial de Santana foi fundado em 1726 por Bartolomeu Bueno da Silva, que na realidade, já havia estado por aquelas bandas, na infância, acompanhado de seu pai o bandeirante tb chamado Bartolomeu Bueno da silva, mais conhecido como Anhanguera (diabo velho).
Naquela primeira expedição, em 1682, reza a lenda que Bartolomeu pai encontrou índias goiáses com os cabelos ricamente adornado em ouro. Como elas se recusassem a contar a origem do metal, o bandeirante encheu uma cuia de aguardente e tocou fogo. Não satisfeito, disse à elas que se insistissem na recusa, iria colocar fogo em todos os rios e fontes dali. Apavoradas, não só revelaram as minas como também deram a ele o apelido com que foi conhecido para a posteridade.
O filho de Anhanguera partiu de São Paulo ,aos quarenta anos de idade e vagou durante três anos no sertão do centro-oeste tentando reconstituir os passsos de seu pai, sem sucesso. Acabou por fundar o Arraial, que mais tarde foi elevando á condição de vila: Vila Boa de Goyás.
Alguns séculos se passaram, até que Márcia e Maria Alice chegaram lá, procurando uma velha senhora que guardava o segredo da confecção dos alfenins. Batemos em sua porta e ela sem nos conhecer, como toda a gente boa de lá, nos convidou a entrar. Vimos então os bichinhos de açúcar, principalmente pombos e passarinhos de toda a sorte e compreendemos porque hoje em dia essa técnica portuguesa caiu em desuso. Dá um trabalho danado! Em sua sala estava também guardado o estandarte da festa do Divino, uma tradição que também chegou com os portugueses, mas isso também já é uma outra linda história!
Márcia Taube
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Descobri que também temos em comum a busca da história por trás das casas comuns e o gosto de conhecer o cotidiano dos lugares que visitamos, sem a "maquiagem" turística.
ResponderExcluirMe deu saudade também da minha avó que fazia os deliciosos e delicados alfinins que você contou.
Belo texto ! Bem escrito !
Beijos,
Celina
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirComo é bom ler narrações belíssimas, emocionantes e com particularidades... típicas de quem aprecia a história onde " se pisa" .
ResponderExcluirTb adoro isso!! Parabéns!
Continue assim. É uma aula de experiência.
Grande abraço, bjinhos e saudades,
Claudia Eleone (São Pedro/Brasília)