Depois de cumpridas suas obrigações pessoais, para com a sociedade, a família e sabe-se lá mais com o quê, chega a hora do dia (ou da madrugada) em que sua sala lhe pertence, no mais absoluto silêncio. Nessa hora, em determinada poltrona, abre-se um livro e...
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Visitante das galáxias
Cresci e fui criada em casa de pessoas muito velhas, cuidada por minha avó e bisavó, por isso fiquei um pouco esquisita. Como não podia descer para brincar com as outras crianças, fui criando um mundo só meu, repleto de personagens de história em quadrinhos, que caprichosamente desenhava e coloria. Também descobri que podia desenhar objetos, pessoas e construções arquitetônicas, perfeitamente. Descobri que podia aprender linguas, sozinha. Comecei a pesquisar sobre a vida de mulheres célebres, personagens históricos, escritores, autores de peças teatrais. Li tudo sobre Cecilia Meireles, Bandeira, Pessoa. Comecei a escrever, sob influencia deles, ganhei alguns premios em concursos de poesia. Também escrevi coisas muito ruins, uma barbaridade, mas que na época eu achava o máximo. Estão guardadas, pois são engraçadas e bem pretensiosas, como a maioria das coisas que fazemos na juventude.
Fui sem querer, tornando-me uma verdadeira desgraça nos esportes, desperdiçando minha altura por ter medo da bola, afastando-me assim dos grupos de amigos que poderiam ter me ensinado a jogar totó, sinuca e baralho.
Em compensação, podia distinguir móveis de época, classificar louças inglesas, chinesas e cristais, nada desse universo escapava ao meu conhecimento, já que esses objetos faziam parte do meu cotidiano. Mas isso era um bocado esquisito para uma criança.
Quando comecei a reparar que eu era diferente das outras meninas, já era adolescente. Minha avó fazia minhas roupas e bordava minhas camisetas, enquanto todo mundo já curtia Company e Cantão.
Eram os anos 80, e tudo se passou tão rápido que parece que foi em outra vida. Participei de um grupo jovem, conheci muitas pessoas que pensavam como eu. Fiz alguns trabalhos bonitos com essas pessoas. Visitei presídios, fui garçonete em almoços beneficentes. Conheci o Chacrinha nas obras da irmã Zoé. Quase namorei um Filipe, quase é ótimo, tinha a certeza de que estávamos nesse caminho, até ele se decidir pelo seminário.
Acho que estou escrevendo isso para justificar um pouco o fato de habitar universos paralelos, causando um pouco de estranhamento aos que me conhecem de perto. Mas nesse fantástico mundo, a criatividade muito bem humorada impera sobre o cotidiano.
Beijos.
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