Depois de cumpridas suas obrigações pessoais, para com a sociedade, a família e sabe-se lá mais com o quê, chega a hora do dia (ou da madrugada) em que sua sala lhe pertence, no mais absoluto silêncio. Nessa hora, em determinada poltrona, abre-se um livro e...
sábado, 27 de junho de 2009
Navegando pelo Rio Paraguai.
Todos esses dias subindo o Rio Paraguai, com o sol e vento no rosto, no tijupá, de frente para as aves e bichos do Pantanal. Nem sei como descrever isso, em palavras. Apenas em pensamento agradeço a Deus por esse presente de aniversário. Por minhas mãos, pernas e braços perfeitos. Para que sirvam de instrumento de melhoria e incremento na qualidade de vida de alguém. Para que de alguma forma, minimize o sofrimento do filho de alguém que eu não conheço. Assim eu não terei feito apenas boas obras para as pessoas que estimo, mas distribuído algumas delas a gente que nunca mais verei e que sequer se lembrarão de mim, mas que permanecerão com elas quando eu me for.
Das barrancas, aguardam crianças de todas as idades, e mulheres sem os dentes da frente, e gente muito, muito idosa. Vermes, piolhos, dermatites, diabetes, hipertensão, tosse, catarro, cáries, hemorragias, fistulas, candidiase, nos aguardam.
Tenho pedido licença para fotografar seus rostos, suas casas, seus fogões, seus cachorros. Vi algumas aldeias e comunidades no meio do nada.
Caminhei, a noite, por essas ruas de terra batida, imaginando o que seria viver assim. Mas continuo sem fazer nem ideia, porque tudo é diferente do que conheço, os valores, os pensamentos, as vontades.
Apenas acontece que estou do lado de cá da borda do navio, do lado de dentro.
Temos em comum nossa humanidade e se é verdade que Deus ouve nossas preces e nos atende de formas inesperadas, tenho até medo de minhas orações. Pedi que me provesse de humildade, para que, sem defesas, pudesse melhor compreender a natureza de tudo que preciso fazer aqui.
Que de alguma forma me fizesse mais proxima dessa realidade.
E agora tem dois dias que meus colegas olham minha cabeça, garantindo que não há nada lá, e eu cismando que é escabiose, sem dúvidas, porque está coçando muito. Imagino o que minha família e amigos não dirão quando souberem. Eles,que acharam uma insensatez a minha vinda.
Mesmo assim estou feliz, sei que essa missão será uma lembrança muito querida em meu baú de histórias para contar aos netos.
Beijos saudosos.
Marcia.
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Márcia,
ResponderExcluirvc não existe!!
Como já disse antes, vc tem olhos de poeta e vê beleza em tudo. Gostaria de ver as fotos.
Um grande beijo, Karina K