Depois de cumpridas suas obrigações pessoais, para com a sociedade, a família e sabe-se lá mais com o quê, chega a hora do dia (ou da madrugada) em que sua sala lhe pertence, no mais absoluto silêncio. Nessa hora, em determinada poltrona, abre-se um livro e...
terça-feira, 29 de julho de 2008
Hora do Café- Márcia Taube
Às tres da tarde, pausa para o café. Na boca do fogão, a água ferve, para escaldar o bule e o coador de pano. As xícaras brancas, já arrumadas com as colheres e os pratos para servir o bolo de fubá com erva-doce. Desenformar o bolo, cobrir com pano de prato, novo, bem limpo. Coar sem pressa, como se usava fazer antes das coisas ficarem tão práticas. O cheiro envolve a casa, é hora de avisar ao povo que está pronto o café.-O que é isso, perguntam as crianças, espantadas com os apetrechos de roça, nunca vistos em nossa cozinha.-Coisas novas, mas muito antigas, que providenciei. Para vocês conhecerem o jeito como antes se fazia café, antes de existir a cafeteira...-Mas quem vai limpar toda essa sujeira?-É sempre a criança que faz essa pergunta!-Nossa mãe é muito esquisita...Mas ao acercarem-se do bolo, ao levantar o pano branco, mistura-se um novo aroma ao existente: o de bolo quente, recém desenformado.Acredito que toda mãe e todo pai, todo parente próximo que cuida de uma criança, tem a obrigação de ir criando nela memórias afetivas, que educam muito mais do que sermões. São tres da tarde, neste dia qualquer, na minha cozinha. As crianças querem saber se tem manteiga, de verdade.Depois do momento passado, as lembranças serão banais. Mas a recordação dos cheiros, o calor que emana das atitudes de quem é de casa, de alguma forma estarão ali.-Semana que vem vamos soltar uma pipa! Já passou da hora de vocês terem pipas!-Viva a mamãe!
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