Depois de cumpridas suas obrigações pessoais, para com a sociedade, a família e sabe-se lá mais com o quê, chega a hora do dia (ou da madrugada) em que sua sala lhe pertence, no mais absoluto silêncio. Nessa hora, em determinada poltrona, abre-se um livro e...
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Desejos de eremita.
Já deve ter lhe acontecido de você estar numa festa e perceber que talvez fosse melhor ter ficado em casa, pois as pessoas que lá estão, nada tem a ver com você. Reuniões em que, logo de cara, segregam-se os casais, imaginado que os assuntos entre os sexos são divergentes, em pleno século 21!
Mulheres de um lado, tentando ser agradáveis, buscam desempenhar o papel que imaginam lhes caber, tais como servir salgados, fazer o pratinho das crianças, conversar sobre assuntos cotidianos, do domínio de todos, para que ninguém se sinta excluído. Nesse caso, nada melhor que as agruras domésticas, entre outras pérolas.
Alguns temas, por delicadeza, não convém. Para que falar de suas conquistas no trabalho, da viagem maravilhosa que fez, dos novos autores que descobriu, se certamente, nem todos os presentes podem partilhar desses assuntos? Você pode parecer esnobe ou pedante.
Os homens, claro, falam sobre trabalho, através de perguntas mais ou menos diretas, medem-se socialmente. As ocasiões em que conversam sobre mulheres, esportes e em especial, futebol, não é necessariamente a mesma em que têm a oportunidade de vestir um terno e uma gravata. Tais assuntos ficam melhor empregados em clubes ou em rodinhas com a turma do escritório.
Caso não faça parte de nenhum casal, pior para você, ocasião em que será alvo de avaliações detalhadas por ambos os times, e haja jogo de cintura para bancar a divertida-inofensiva-e-gente-boa!
Há situações em que, de copo na mão, você percebe que o assunto está para lá de arrastado, mas não consegue desvencilhar-se dele. Superficial, previsível, enquanto a boca fala a primeira coisa que lhe ocorre, os olhos vagueiam pelo salão, em busca de socorro.
Ainda assim, nada pode ser pior do que encontrar aquela amiga extrovertida e eloqÜente, verdadeira metralhadora de palavrórios, onde você tentando balbuciar algumas frases coerentes, percebe que está à margem do diálogo. Ela fala só. Por acaso, você está presente, mas ela não lhe viu. Ou então, espera que fale a última palavra, para retomar seu assunto do ponto em que parou, ela só precisa ser ouvida, nada mais.
Banalidades, mediocridade, falsos encontros. O que buscam as pessoas, insistindo em ir a lugares como esses que descrevi? Ocupar um vazio social, sentir-se parte integrante de um meio, muito embora não esteja certa de pertencer a ele.
Porque o pior de tudo é sentir que não faz parte de nada, que convive bem demais com a propria vontade de estar só. De estar satisfeita com seu egoísmo e que a intolerância em relação aos defeitos alheios, pode estar mascarando um desejo de destacar-se da tribo. Um desejo de eremita, em não ser contrariado. Um alívio. Uma doença. Uma dolorosa paz.
Márcia Taube.
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