segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Despedindo da velha casa

Agora que as caixas estão cheias de nossas roupas e coisas, senti um pouco de pena de nós todos, de termos tantos volumes para carregar. Temos vivido assim, carregando tudo isso, para todos os lados que a vida nos manda. Somos meio como as tartarugas, como as anêmonas e por aí vai. O pior de tudo é olhar para todos nossos objetos desalojados, despejados de seus cotidianos lugares, como se não devessemos mais estar aqui. Precisei comprar estantes novas, pois os armários mostraram-se bem pequenos. Em compensação, nossa mobília ficou perdida, dançando numa sala imensa. E olha que temos mobília! Damos nosso último adeus a esta boa casa, onde fomos imensamente felizes. À jabuticabeira que plantei para daqui a dez anos, ao pé de manga que me proporcionou maravilhosos chutneys, às últimas frutas-do-conde da estação. Decidimos levar o fogãozinho á lenha, para lembrar dos almoços rodeados de amigos. Pode ser que nos aventuremos, ainda, quando estivermos bem instalados. Os cachorros nos olham, perdidos. Estão pelos cantos sem entender nada. Têm dormido no nosso quarto, com medo de serem esquecidos. Também eu estou como os cachorros, desde que decidi ficar. Sempre se leva um tempo para desacostumar os ouvidos aos ruídos de uma casa e este é o processo que iniciamos a partir de hoje, para liberá-los para as pessoas que vão morar aqui. Aos poucos, esquecemos o ranger dos portões, o barulho das folhas, das trancas, das maçanetas, das torneiras, do piso e do telhado, principalmente do telhado, nos dias raros em que venta e chove. Depois de tudo esquecido, é que temos espaço para absorver os novos ruídos, e só então nos sentiremos em casa. Beijos, Márcia

4 comentários:

  1. Oi Marta. Obrigada pelo apoio. Sempre quiseres nos visite. Sempre teremos prazer em disponibilizar nossas receitas. Se vc quiser conte-nos suas experiencias, pois gostamos de saber se as receitas funcionam com outras pessoas e o que pode ser mudado para ficarem mais gostosas. Abracao.Gisele.

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  2. Minha amiga, para onde vc está indo? Mande-me notícias. Devo dizer que seu texto está primoroso. Parabéns, estais me saindo uma cronista de mão cheia.

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  3. Querida,
    Estou na mesma situação, mas não consigo achar poesia nisso.
    Estou deixando NY, cidade que amo, rumo ao continente amarelo. Aliás, eu já estou bem amarelinha de tanto arrumar malas e espirrar por conta das roupas de lã. Na verdade, no momento, a minha cor não é amarela é blue!!!
    Um beijinho para você
    Karina K

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