terça-feira, 30 de março de 2010

A despedida do meu avô

Eu tive um vô muito legal, que foi como um pai para mim. Não vou contar aqui as inúmeras histórias, porque a bem da verdade, se parecem com as histórias de todo mundo. Apenas direi que fez de minha infancia e parte da juventude um pouco mais felizes.E que morreu um pouco antes de eu completar quinze anos. Isso foi marcante porque foi uma festa sonhada, no clube Piraquê, onde éramos sócios. Minha mãe já havia fechado o buffet e ele também queria que houvesse fogos de artifício. Mas o que ele mais sonhava era dividir com meu pai o momento da valsa, que teria sido a Valsa do Imperador. Eram os anos oitenta e os quinze anos meio que estavam fora de moda, mas para mim e algumas outras, ainda era um momento muito esperado. Claro que nem preciso contar que a festa foi cancelada, mas essa definitivamente não é a história de uma festa que não houve e que afinal, nem lamentei. No mês de julho, invariavelmente, viajava com meu pai e partimos em uma excursão para foz do Iguaçu, Paraguay, entre outros, que terminava em São Paulo. Nos últimos dias dessa viagem comprida, tive medo que meu avô morresse, tentei ligar para casa e não consegui falar. Quando retornei,na sala, junto de minha mãe e avó, estava minha professora de matemática e amiga da família, a irmã Guiomar. Elas estavam tão desamparadas, coitadinhas, que acharam melhor chamar alguém para dar a noticia para mim e para minha irmã. Mas também não era essa a história que valeria a pena entrar em detalhes. Na verdade, o que eu queria mesmo contar é que por muito tempo me atormentou a idéia de que eu não havia me despedido do meu avô. Meu pai já esperava lá em baixo, as malas na porta e ele falava ao telefone com o Padre Neves, dizia que ia fazer essa cirurgia com o Dr Zerbini e em breve estaria novo. Saímos gritando, apressadas, um tiau pra todo mundo, e nunca mais voltamos a ve-lo.Esse último momento, sem abraços, sem um adeus, por muito tempo me entristeceu. Tanto que de certa feita, no metrô, avistei um senhor que se parecia com ele e o acompanhei com o olhar. De costas, ia para a escada rolante da estação Botafogo. O mesmo terno, guarda-chuvas no braço, o jeito de caminhar...Então, antes que a porta do vagão se fechasse, consegui escapulir. Tentei alcançá-lo e foi preciso um esforço, pois era hora do rush, e a multidão andava em sentido contrário. Quando cheguei perto, ele virou e claro, nem se parecia com ele. Também não tive coragem de falar nada, quanto mais pedir um abraço, até porque o sujeito apertou o passo, deve ter achado que eu era perigosa! Só sosseguei na manhã seguinte em que tive um sonho muito real. Eu estava no quarto, dormindo, mas minha irmã não estava lá. Aí meu avõ chegou e me acordou. Então eu pude dar aquele abraço que estava faltando. Mas foi tão verdadeiro, que é difícil de explicar.Também foi estranho o fato de que ele se despediu de mim, me consolou e vestido com o terno de sempre, saiu. Até hoje me recordo do que disse, mas acredito que para a maioria das pessoas seja irrelevante. Importa apenas que de algum modo, apesar da saudade imensa, não houve mais tristeza e meu sonho surtiu o efeito desejado e libertador. Bem, prolixa que sou, resume-se o texto a este último parágrafo.Eu queria contar que meu vô me visitou num sonho e que essa história eu não tirei de nenhum livro.

segunda-feira, 29 de março de 2010

A ARTE DE AMAR - Ovídio

Ovídio, 43aC-17dC



¨ A ELEGÂNCIA

Mas não vá frisar seus cabelos a ferro, nem gastar suas pernas esfregando pedra-pomes.Deixe esses cuidados áqueles que, com gritos à moda frígia, celebram a deusa do monte Cibele. Uma beleza sem aparatos assenta aos homens. Quando a filha de Minos foi raptada por Teseu, este não tinha arranjado sua cabeleira sobre as temporas por meio de grampos. Hipólito foi amado por Fedra, apesar de sua aparencia exterior negligente. Vimos uma deusa se agradar por um hóspede selvagem das florestas, Adonis.É pela simples elegancia que os homens devem agradar. Que sua pele seja bronzeada pelos exercicios no Campo de Marte, que sua toga caia bem e não tenha manchas. Que seu calcado esteja corretamente amarrado, que as fivelas não estejam enferrujadas. Que o seu pé não esteja perdido e nadando num sapato muito largo, que um corte mal feito não enfeie nem arrepie sua cabeleira, que seus cabelos, sua barba sejam cortados por mãos experientes, que suas unhas estejam bem cortadas e limpas, que nenhu pelo saia das narinas, que um hálidto desagradável não saia de uma boca malcheirosa e que o odor do macho, pai do rebanho, não fira as narinas. Todo o resto, abandone ou às jovens lascivas, ou aos homens, que, contra a natureza, procuram o amor de um homem.¨

Publius Ovidius Naso, nascido em 43a.C.foi considerado um dos maiores poetas da Roma clássica, escrevendo sobre mitologia, amor, entre outros temas. Nesta obra,escrita por volta do ano 1a.C, o autor realiza um trabalho de auto-ajuda para os apaixonados da época, verdadeiro tratado sobre técnicas de seducão. No entanto, envolveu-se em um escândalo de natureza sexual, como são os melhores escândalos. Infelizmente, a amante era neta do imperador romano Augusto, que o baniu para o mar negro, e mandou apagar da cidade todas as marcas de sua presenca. No exílio, inconformado com seu destino, após escrever inúmeras cartas sobre seu infortúnio, morre em 17 d.C. Seus belos versos influenciaram Chaucer, Shakespeare,Dante entre outros.
Triste fim para um grande poeta!

domingo, 14 de março de 2010

A Viagem de Shihiro

Ir ao cinema pode muito bem ser um prazer egoísta, em que um saco enorme de pipocas e um big refrigerante zero são as melhores companhias. Adoro freqüentar as primeiras sessões, com as salas ainda vazias, o ar condicionado bem gelado, as poltronas reclináveis e aquele cheiro, que só as salas de cinema tem, misto de carpete novo, jujubas e manteiga .Adoro especialmente o barulho das balas sendo desembrulhadas. Dentre os inúmeros filmes inesquecíveis que vi, destaco A Viagem de Shihiro, que assisti no Botafogo Praia Shopping, no Rio de Janeiro, alguns anos atrás. Nesse desenho animado feito para adultos, emocionei-me como raramente ocorre comigo, em uma cena em especial : Shihiro está sentada num trem, completamente vazio, que viaja em alta velocidade. De repente, o trem para numa estação, as portas se abrem e entra o monstro, que senta-se ao seu lado. Ela não tem medo, continua sentada, com as mãos no colo, tão sozinha e desamparada quanto ele, imenso e medonho. De alguma forma se entendem, ele não a devora, são companheiros de viagem. É um desenho japonês muito bonito, uma fábula de ajuda mútua, fraternidade, busca interior, luta contra nossos muitos medos. Nem preciso dizer que identifiquei-me com a garotinha... Um filme para ser visto assim, sozinha, como a personagem, para uma melhor compreensão do que está sendo mostrado. Quem puder, veja.