domingo, 13 de dezembro de 2009

Arrumando a casa para 2010!

Até o momento já sairam três caixas de brinquedos, todos doados em bom estado, direto para a casa dos novos donos. Vários sacos de papéis e outros apetrechos para lá de inúteis que entulhavam minhas gavetas e que eu esperava algum dia precisar, mas desisti de possuí-los, pois com certeza quando esse dia chegar, não conseguirei encontrá-los. Vão agora bagunçar as gavetas de outrem. Os armários estão impecáveis, e o quartinho da bagunça ficará ok esta semana. Penduramos os quadros que estavam esperando a vez, jogamos fora todos os CD sem caixa, organizei a gaveta de fotos, a de remédios e a caixa de bijuterias. Metade a Lia levou para ela. Agora teremos mais espaço para caber novas coisas, que se apresentarão nesse novo ano, apesar de que, agora tenho prezado bastante os espaços vazios e o não ter tudo o que acho que preciso. Penso que as belas coisas continuarão a haver nas lojas em todo o mundo. Tenho preferido fotografar... ( Gente, que mentira deslavada, peço desculpas pela frase acima, descarada e descabida.Quem me conhece sabe que eu desejava muito esse desapego, que ainda não chegou para minha evolução pessoal, ainda. Mas como viram, melhorei muito.) No entanto, estou amando organizar essa festa natalina, com a presença de nossos amigos, já que ao longo do ano, estivemos sempre ocupadíssimos e de repente, novas mudanças surgem e eles se vão... A ceia já foi encomendada, as cadeiras, mesas e talheres alugados, o tecladista já disse que vem, o amigo oculto combinadíssimo e agora e só esperar para o dia! Alguém sabe onde alugo uma rena?

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Preparando o Natal

Queridos amigos, Mais um natal se aproxima, muitos afazeres no trabalho, preparativos para eventos no trabalho, Ações-cívicas de final de ano, provas finais de matérias que precisei repôr por ter viajado, e também as do meu filho que necessitava de apoio extra, enfim, coisas que precisavam ser feitas. Ufa! Depois do dia 14, então, estarei praticamente liberada! Pouco tempo me sobrou para as coisas que mais adoro fazer nessa época do ano que é arrumar a casa para a espera das festas de Nata e Reveillon. Como não vamos viajar, estou pensando em organizar, aqui em casa mesmo, uma festança animada! Para poucos amigos igualmente sem parentes aqui na cidade. Já montamos uma árvore bem grande e iluminada na entrada da casa, hoje comprarei minhas travessas de louça brancas (imensas, para caber um perú inteiro, um leitão ou um cabrito), separei meus livros de receitas e escolhi o que fazer, para já começar os preparativos e deixar algo congelado. Saudades dos antigos chutneys de manga, não tenho mais aquela linda mangueira a disposição... Além disso, nessa época pipocam os convites para os mais diversos eventos e despedidas, praticamente dois por semana, e isso é bom, pois diminui um pouco a solidão de quem os parentes moram longe e também não poderão vir. As vezes ocupar a cabeça pensando apenas no que vestir é muito bom, distrai e nos tira um pouco da realidade cheia de responsabilidades e obrigações. Hoje tive uma manhã livre e estou muito feliz! Beijos!

sábado, 12 de setembro de 2009

A inconstancia dos bens do mundo

E por falar em Brasil colonial, ofereço Gregório de Matos: A INCONSTÂNCIA DOS BENS DO MUNDO Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância.

Inventando moda e não dando conta

Queridos amigos, Estou compilando dados de livros e da internet a respeito de habitos do Brasil colonial para uma peça de teatro que resolvi escrever e dirigir a toque de caixa, pois será apresentada em outubro, como parte de um seminário, que também incluirá vestuário (as fantasias da peça) e alimentação (negra, tropeira de MG e de influencia portuguesa). Preciso urgentemente de músicas com cifras para violão. Pode ser sacra, lundús ou modinhas. De preferencia anteriores ao século XVII, pois pretendo situar no ciclo do açúcar. Também gostaria de algumas poesias desta época, para inserir no contexto da peça. Talvez os artistas (meus colegas) cantem no final, juntos. Eu disse que haverá degustação dos pratos pesquisados, preciso das receitas também... Para que fui inventar isso, por favor, ajudem-me! Márcia

domingo, 16 de agosto de 2009

A Passagem do Século: 1480-1520.

Prezados amigos, Passei o final de semana inteiro tentando terminar a leitura do livro de Serge Gruzinski chamado A passagem do século: 1480-1520- As origens da globalização, publicado pela Companhia das Letras. Amei esse livro, que li por obra e graça da obrigação imposta pela disciplina de Historia Antiga e preciso de inspiração e tempo para resenhá-lo até o dia 20. Não tenho esse tempo, não sei o que fazer, mas vamos ao livro... Quando estudamos história, por exemplo, a idade média, temos como base os parâmetros europeus de datas, elencados os acontecimentos mais importantes numa linha de tempo que só faz sentido para os...europeus, muitas vezes ainda dentro de uma visão do século XIX. O que eu gostei nesse livro é que ele disserta a respeito de uma série de acontecimentos que ocorreram simultaneamente em várias partes do mundo, sob a ótica de cada povo. Consegue tornar claro pensamentos que só faziam sentido para o homem medieval, através da elucidação das crenças em voga naquela época. Traça pontos em comum entre civilizações distantes, tais como a idéia recorrente do apocalipse, pregadas por videntes e sacerdotes nas partes mais remotas do planeta. Discorre a respeito das viagens de Colombo, dos equívocos cometidos pelos navegadores, do que se passava no reino de Castela, continua viajando atavés do humanismo italiano, parte para a Lisboa, no mesmo ano de 1500, em que as caravelas de Cabral aportaram no Brasil acreditando estar nas Indias, parte para o império do sol revelando as particularidades conhecidas do império Inca, visita o esplendor do México-Tenochitlan, que era nesse mesmo ano, uma jovem potencia e provavelmente a maior cidade do planeta, com centena de milhares de habitantes, a catástrofe que se abateu sobre ela com a chegada dos europeus, parte para o reino da China, que no final do século xv, vivia uma crise administrativa, financeira e militar, em seguida nos conta sobre o Islã e o império Turco, desmistificando assim essa visão redutora do passado, eurocentrista. O autor demonstra como se fez essa passagem do século xv para o xvl , considerando que nessa época é que surgiu as primícias da globalização, com as viagens transcontinentais, choque de civilizações, desbravamentos, colonização e o inicio da ocidentalização do mundo. Bem, agora preciso melhorar um pouco e aprofundar tais pensamentos, parece que vou passar a noite trabalhando nisso. No proximo post, vou tentar transcrever um trecho do livro que tenho certeza que voces vão amar, pois trata da visão que os índios brasileiros tiveram dos estranhos conquistadores. Por aqui fico. Beijocas. Marcia.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Q.A:
Por uns dias me esqueci quem eu era. Minhas necessidades urbanas se abrandaram, um pouco. Da beirada segura do navio, pude assistir a um culto religioso, com muita cantoria, em um dos domingos que passei fora. Era uma Igreja de tabuas corridas e chão batido.
Todos usavam suas melhores roupas. E se digo isso, é porque sei, pois andei olhando os varais, durante o dia. Ninguém parecia incomodar-se com a quantidade enorme de insetos. O vilarejo estava ás escuras, exceto na Igrejinha e aos poucos iam chegando os fiéis, com a Bíblia na mão. A mulherada, algumas de cabelo comprido até a cintura, trataram de domar o ondulado dos fios, com uma espécie de óleo que os fazia grudar na cabeça.
Enquanto isso, mesmo no escuro da noite, as crianças brincavam de correr e jogar areia uns nos outros, sem se importar com os bichos.
E havia uma senhora, que habitava uma maloca de bambús, que parecia ser uma espécie de líder comunitária local. O pouco que tinha dividia com seus filhos naturais e adotivos. O menor foi submetido a uma pequena cirurgia, em que foi necessário extrair todos os dentes anteriores, pois que na verdade eram apenas cacos de raizes dentais. Ainda que não fossem permanentes, foi lamentável a perda.
Mas não estou hoje para falar de dentes, mas de encontros. De como fui feliz afastando-me de tudo o que costumeiramente faço. De ver o que vi, comer o que comi, conviver com quem convivi, com muita determinação.
De verdade, senti falta de muitas poucas coisas, tendo conhecido pessoas que tinham muitíssimo menos.
Ainda que eu ame tudo o que tenho e construí, sei que posso fazer tudo de forma diferente, se algum dia, desejar. Todo mundo pode.
Foram essas as coisas que me mostraram as pessoas que encontrei, e com quem na verdade troquei conhecimentos, assim que me propuz a ajudar, apenas tratando de trabalhar honestamente e tendo os olhos e coração abertos para o que se apresentar.
Beijos,
Márcia.
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A princesa coroada

Queridos amigos, Em uma localidade qualquer entre nada e lugar nenhum, na beirada do Rio Paraguai, encontrei uma princesa coroada. Ela veio com a mãe buscar alívio para uma dor de dente, tratada a base de chá de batata-doce, já havia uma semana e sem apresentar melhoras. Olhou com muita desconfiaça para o tratamento proposto, já que eu não queria extrair o dente, que era permanente demais. Mesmo após remover a cárie, capear e restaurar o elemento muitíssimo permanente, achou que eu estava de má vontade e muita preguiça. Para forçar amizade, propuz tirar uma foto, tendo como fundo a cortina divisória entre os consultórios. Amei essa foto e vou dividir com vocês, agora que descobri como postar sem ajuda de ninguém fotos no blog! Ela me encheu de alegria, acreditei que existe mesmo, apesar de tudo e ainda, escondidas nos lugares mais insuspeitos, todas as ilusões que perdemos. É como reencontrar um parente querido, que não visitamos há muitos anos! Beijos e apreciem!

terça-feira, 14 de julho de 2009

La vie en Rose, outra vez!

LA VIE EN ROSE Des yeux qui font baiser les miens, Un rire qui se perd sur sa bouche, Voila le portrait sans retouche De l'homme auquel j'appartiens Quand il me prend dans ses bras Il me parle tout bas, Je vois la vie en rose. Il me dit des mots d'amour, Des mots de tous les jours, Et ça me fait quelque chose. Il est entré dans mon coeur Une part de bonheur Dont je connais la cause. C'est lui pour moi. Moi pour lui Dans la vie, Il me l'a dit, l'a jure pour la vie. Et des que je l'apercois Alors je sens en moi Mon coeur qui bat Des nuits d'amour à ne plus en finir Un grand bonheur qui prend sa place Des enuis des chagrins, des phases Heureux, heureux a en mourir. Quand il me prend dans ses bras Il me parle tout bas, Je vois la vie en rose. Il me dit des mots d'amour, Des mots de tous les jours, Et ça me fait quelque chose. Il est entré dans mon coeur Une part de bonheur Dont je connais la cause. Mais uma vez preparando-me para uma viagem especial, em meados de agosto. Desta vez visito minha cidade favorita levando minha mãe e meus filhos. Quem adivinha para onde vamos? Acho que nem preciso dizer. Mas a melhor parte, claro, é a preparação que tenho feito para esses oito dias. Consultas a guias, mapas, revistas de viagem. Aluguei O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, O corcunda de Notre Dame, Ratatouille, Asterix o Gaulês. Busquei em sebos exemplares de Tintin. Meu filho está amando. Estou ouvindo muita Edit Piaf, para desespero de todos. Comprei pela internet Paris é uma festa, de Ernest Hemingway. Li em um dia, anotando todos os locais que ele costumava frequentar com Fitzgerald e James Joyce, para ir também. Reli Madame de Pompadour , Senhora da França, enquanto estive embarcada, de Christine Pevitt Algrant e fiz pesquisas históricas.Em Cuiabá, comprei Fazendo as Malas, de Danuza Leão. Anotei todas as dicas, principalmente as dos pequenos e charmosos bistrôs, onde experimentaremos um pouco de tudo. Fechei um passeio de bicicleta pelos jardins de Monet, cerca de trinta minutos de trem distante de lá. Antes de irmos, veremos O jardim das ninféias, imenso, ao vivo e à cores, no L Orangerie. Como não gosto de viajar de excursão, fechei tudo pela internet, aluguei um apartamento em Saint Germain e comprei as passagens. Tenho trabalhado muito para realizar esses planos. Voilá! Beijos sonhadores, Márcia.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Mentes Inquietas

Queridissimos amigos, Amabilíssimos e ilustres, verdadeiros, prezados e muito, muito adorados, ainda que distantes, amigos: Obrigada por existirem em minha vida, ainda que eu seja inconstante e distraída. Por não desistirem de me querer bem, mesmo tendo esquecido seu aniversário. Por não terem me criticado ao perceber que acenaram no vácuo, sem que eu visse ou percebesse nenhum movimento. Por comentarem, bem humorados, que mais uma vez me viram em tal lugar e que eu levei mais de uma hora para perceber! Que estavam exatamente ao meu lado e mesmo assim foi preciso que me cutucassem! Agradeço aos generosos amigos por não terem desistido de mim, nem me julgado mal, enquanto fui, aos poucos, percebendo que este problema tem um nome e também tratamento. Que apesar de tudo, não tenho feito tratamento algum, já que descobri em idade adulta e que nunca interferiu em minha vida estudantil, nem profissional, pois desenvolvi mecanismos de compensação muito eficientes e organizados. O hiperfoco, ao contrário, foi de extrema utilidade em todos os concuros dos quais participei e fui aprovada, principalmente o último vestibular que prestei, tendo sido a segunda colocada, concorrendo com gente bem mais jovem e recém saída da escola. Não posso esconder o orgulho que tive de mim mesma e dessa força de vontade que a tudo tem superado. Que nem sei de onde vem, mas tem feito de mim uma vencedora. Talvez tenha influenciado um pouco em minha vida social, mas para quem me quer bem, meu jeito de ser, às vezes, é motivo de riso benevolente. Para quem não quer, é indiferente, de verdade, pois não me conhecem. Devem achar que sou mal educada... Tudo bem, não se pode agradar sempre, não vou viver me justificando, pois não escolhi isso. Beijos, PS: Se puderem, leiam de Ana Beatriz Silva: Mentes Inquietas. Márcia.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Visitante das galáxias

Cresci e fui criada em casa de pessoas muito velhas, cuidada por minha avó e bisavó, por isso fiquei um pouco esquisita. Como não podia descer para brincar com as outras crianças, fui criando um mundo só meu, repleto de personagens de história em quadrinhos, que caprichosamente desenhava e coloria. Também descobri que podia desenhar objetos, pessoas e construções arquitetônicas, perfeitamente. Descobri que podia aprender linguas, sozinha. Comecei a pesquisar sobre a vida de mulheres célebres, personagens históricos, escritores, autores de peças teatrais. Li tudo sobre Cecilia Meireles, Bandeira, Pessoa. Comecei a escrever, sob influencia deles, ganhei alguns premios em concursos de poesia. Também escrevi coisas muito ruins, uma barbaridade, mas que na época eu achava o máximo. Estão guardadas, pois são engraçadas e bem pretensiosas, como a maioria das coisas que fazemos na juventude. Fui sem querer, tornando-me uma verdadeira desgraça nos esportes, desperdiçando minha altura por ter medo da bola, afastando-me assim dos grupos de amigos que poderiam ter me ensinado a jogar totó, sinuca e baralho. Em compensação, podia distinguir móveis de época, classificar louças inglesas, chinesas e cristais, nada desse universo escapava ao meu conhecimento, já que esses objetos faziam parte do meu cotidiano. Mas isso era um bocado esquisito para uma criança. Quando comecei a reparar que eu era diferente das outras meninas, já era adolescente. Minha avó fazia minhas roupas e bordava minhas camisetas, enquanto todo mundo já curtia Company e Cantão. Eram os anos 80, e tudo se passou tão rápido que parece que foi em outra vida. Participei de um grupo jovem, conheci muitas pessoas que pensavam como eu. Fiz alguns trabalhos bonitos com essas pessoas. Visitei presídios, fui garçonete em almoços beneficentes. Conheci o Chacrinha nas obras da irmã Zoé. Quase namorei um Filipe, quase é ótimo, tinha a certeza de que estávamos nesse caminho, até ele se decidir pelo seminário. Acho que estou escrevendo isso para justificar um pouco o fato de habitar universos paralelos, causando um pouco de estranhamento aos que me conhecem de perto. Mas nesse fantástico mundo, a criatividade muito bem humorada impera sobre o cotidiano. Beijos.

sábado, 27 de junho de 2009

Navegando pelo Rio Paraguai.

Todos esses dias subindo o Rio Paraguai, com o sol e vento no rosto, no tijupá, de frente para as aves e bichos do Pantanal. Nem sei como descrever isso, em palavras. Apenas em pensamento agradeço a Deus por esse presente de aniversário. Por minhas mãos, pernas e braços perfeitos. Para que sirvam de instrumento de melhoria e incremento na qualidade de vida de alguém. Para que de alguma forma, minimize o sofrimento do filho de alguém que eu não conheço. Assim eu não terei feito apenas boas obras para as pessoas que estimo, mas distribuído algumas delas a gente que nunca mais verei e que sequer se lembrarão de mim, mas que permanecerão com elas quando eu me for. Das barrancas, aguardam crianças de todas as idades, e mulheres sem os dentes da frente, e gente muito, muito idosa. Vermes, piolhos, dermatites, diabetes, hipertensão, tosse, catarro, cáries, hemorragias, fistulas, candidiase, nos aguardam. Tenho pedido licença para fotografar seus rostos, suas casas, seus fogões, seus cachorros. Vi algumas aldeias e comunidades no meio do nada. Caminhei, a noite, por essas ruas de terra batida, imaginando o que seria viver assim. Mas continuo sem fazer nem ideia, porque tudo é diferente do que conheço, os valores, os pensamentos, as vontades. Apenas acontece que estou do lado de cá da borda do navio, do lado de dentro. Temos em comum nossa humanidade e se é verdade que Deus ouve nossas preces e nos atende de formas inesperadas, tenho até medo de minhas orações. Pedi que me provesse de humildade, para que, sem defesas, pudesse melhor compreender a natureza de tudo que preciso fazer aqui. Que de alguma forma me fizesse mais proxima dessa realidade. E agora tem dois dias que meus colegas olham minha cabeça, garantindo que não há nada lá, e eu cismando que é escabiose, sem dúvidas, porque está coçando muito. Imagino o que minha família e amigos não dirão quando souberem. Eles,que acharam uma insensatez a minha vinda. Mesmo assim estou feliz, sei que essa missão será uma lembrança muito querida em meu baú de histórias para contar aos netos. Beijos saudosos. Marcia.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Eu gostaria de dizer que nao consegui mais postar porque esqueci minha senha. Tenho esquecido coisas que não devia, uma atras da outra, e me metido em encrencas por causa disso. Ja esqueci as chaves do carro dentro do porta-luvas e as portas travaram-se por si, comigo do lado de fora. Ja esqueci minha senha do banco, meu filho no ingles ate as seis da tarde, as compras da feira tambem dentro do carro e so lembrei dois dias depois, porque cheirava muito mal. Cansada de passar tanta vergonha, comecei a escrever lembretes para mim mesma e colar post-its pela casa. QUERIDA MARCIA, AMANHÃ, TERÇA, LEVAR O YVAN NA AULA DE XADRES. NÃO ESQUECER DE BUSCA-LO. Pobre criança. QUERIDA MARCIA, NAO SE ESQUECA DE LIGAR PARA O LABORATORIO, VERIFICAR SE OS EXAMES DE SANGUE ESTÃO PRONTOS. A CADERNETA DE TELEFONES ESTA DENTRO DA GAVETA DO CRIADO MUDO. Que horror. QUERIDA MARCIA, O ANIVERSARIO DA DANIELA SERA SABADO, NÃO ESQUECER DE COMPRAR SEU PRESENTE. E mesmo comprando o presente, corro o sério risco de esquece-lo em casa e chegar na festa de mãos abanando. Por falar nisso, o presente da Daniela esta comigo ate hoje. Assim sendo e em se tratando de um gloss da Lancome, acho que vou usar. Queridos amigos, minha mente esta pifando, mal me reconheço. Distraida e desmemoriada, o que vai ser de mim! Por favor, defendam-me! Beijos.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O amor acaba- Paulo Mendes Campos

"O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; ás vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia;; no andar diferente da irã dentro de casa o amor pode acabar;na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor podae acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de tres goles mornos de gim à beira da piscina, no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias; mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores, em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de dilicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desepero; nos roteiros do tédio para o tédio,na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conuugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve, em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diameante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados, e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo, na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; em qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba."

terça-feira, 7 de abril de 2009

Trecho de Uma Breve História do Mundo

"(...)Dezenas de milhares de anos antes do surgimento dos sacerdotes e dos videntes, os sonhos vividos devem ter sido recontados com admiração. A importância dos sonhos era um reflexo da importância da noite, quando os sonhos aconteciam. Em um acampamento simples, numa sociedade nômade, a presença da noite e a intensidade da escuridão praticamente dominavem. Hoje, uma grande cidade iluminada praticamente domina a noite." A imagem de um céu estrelado, escuro, pesando sobre os medos humanos é muito forte. A sensação de desabrigo, a perda de sua identidade durante as longas horas de escuridão, levou o homem a buscar o conforto na proteção divina. A noite era necessária como um tempo de realização das coisas que estavam fora da esfera material, portanto, longe do domínio dos primeiros humanos. Simples assim. Tirei esse trecho do livro Uma Breve História do Mundo, de Geoffrey Blainey.Tem sido meu best-seller de cabeceira, vou lendo aqui e ali um trecho, antes de dormir. Recomendo esse livro, pois é uma verdadeira viagem no tempo, sendo a história da humanidade contada de maneira fácil e gostosa de se ler, como se fosse uma novela. Agora vamos nos enfiar em nossos pijamas e cair na caminha. Beijos, Márcia.

domingo, 5 de abril de 2009

Considerações sobre um trecho de Funari...

Queridos, nessa bela tarde de domingo, ao invés de estar curtindo imensamente a bela piscina aqui de casa, ou mesmo tirando um cochilinho depois do almoço, tenho a oportunidade de ler um texto de Pedro Paulo Funari, pois tenho prova de arqueologia na segunda-feira. Escolhi o trecho abaixo para dividir, espero que apreciem: " O caráter periférico do Brasil no contexto científico internacional e a importação de conceitos europeus por parte de nossas elites viriam a gerar um duplo movimento de identidade cultural. Por um lado, a valorização de um passado aqui territorialmente inexistente, representado no culto às elites clássicas, desde o Egito Faraônico, passando por gregos e romanos, até chegar às monarquias modernas. Por outro, a imposição, desde a década de 1870, das idéias de progresso e, nos últimos anos, de desenvolvimento. Assim, à valorização de um passado externo correspondeu a destruição física e ideológica da memória nativa, seja a indígena seja a "herança atrasada" a ser superada pelo desenvolvimento. Esses dois fatores, isolamento científico e identidade cultural subordinada a modelos externos, viriam determinar as funções básicas da arqueologia em solo brasileiro. Trata-se em nosso meio, de uma disciplina acadêmica importada, implicando uma atuação marginal em termos da cultura nacional. De fato, na medida em que os vestígios arqueológicos no Brasil se referem, em geral a comunidades indígenas exterminadas durante a colonização do país, a escavação dos sítios pré-históricos desvincula-se dos interesses dos principais segmentos sociais." Bastante esclarecedor, precisamos nos acostumar e difundir a idéia de que nosso passado não remonta aos quinhentos anos preconizados numa visão colonizadora, nossos vestígios têm em torno de doze mil anos. Além disso, a cerâmica mais antiga das Américas não é Maia, nem Inca, nem Asteca. É a cerâmica Mina, amazonense. Procurem no google. Beijos, obrigada por me aturar, estou impossível ultimamente. Márcia.

domingo, 29 de março de 2009

Dias comuns

Finalmente minhas férias terminaram sem que eu houvesse descansado. Arrumei a casa, organizei uma rotina provisória, para irmos nos virando antes de que possa toda a família estar reunida novamente. É um pouco difícil conciliar tantas coisas,precisei abrir mão (sem muito pesar, é verdade) do personal, das lições de francês ( estava morta aos sábados), mas continuo trabalhando com muito empenho, fazendo faculdade à noite, cuidando da rotina das crianças, das necessidades básicas de compras, de comida, de médico, de lições e tarefas além da leitura de inúmeros textos e artigos necessários ao trabalho que venho desenvolvendo junto ao departamento de arqueologia da universidade. A babá noturna precisou ir embora para o RJ, os quadros ainda não foram todos pendurados e o banheiro do meio ainda não funciona, mas estamos ok. Tenho valorizado muito as pequenas horas vazias do dia, os trinta minutos em que posso tomar banho e jantar com meu filho caçula. A memorável tarde de domingo passado, em que pude receber minhas amigas para um lanche, preparado com muito carinho. Em cada lugar coloquei um presentinho, para dizer que embora sempre muito ocupada, não as esqueço e que são importantes em minha vida. Também adorei, ao final de uma tarde, ter ido filar um lanchinho, sem ter sido convidada, levada por uma outra amiga com quem passei o dia na Bolívia. Ficamos todas na cozinha, sem maiores cerimônias, abrindo a massa do pastel, colocando o recheio dentro e dispondo na chapa, e depois tomamos bolo com refrigerante. E claro, fofocando, bastante satisfeitas. Por um momento acreditei que seria muito feliz em poder ficar em casa, todos os dias, só cuidando das minhas gavetas e fazendo geléia. Minha amiga libanesa me fez desejar ter uma vida mais sossegada, mas foi só naquele sábado. Já contratei outra babá, para que meu pequeno não precise mais ficar me aguardando na biblioteca e incomodando, morto de sono, aos outros alunos. Em compensação, passei meu dia de folga assistindo à trilogia clássica de Guerra nas Estrelas juntinho com ele. Jantamos juntos, todos, no melhor restaurante da cidade. E estou pensando em aceitar, sim, uma proposta de integrar um grupo de três para escrever um artigo sobre uma Igreja da região, mas isso ainda fica em segredo... beijos, Márcia

quarta-feira, 25 de março de 2009

Aos muito amigos

Hoje sei quem são meus verdadeiros amigos. Olho ao meu redor e os enxergo claramente. Sei que todos precisam sobreviver, que tem papéis a desempenhar, apesar de muito nos amar. Olho em cada olho, lá dentro e deixo que isso muitas vezes fale por mim. Muitas pessoas acreditam que eu sumi, mas não os meus amigos, que sempre estiveram aqui. Em minha casa, nos finais de tarde, ao telefone ainda que rapidamente, quem queria me achar, achou. Quem queria dizer algo, disse. Agradeço aos muito queridos por esse respeito, esse carinho, essas verdades, os muitos conselhos. A generosidade dos minutos perdidos, as xícaras de café com adoçante, as mãos que seguraram as minhas, os abraços e todo o apoio do mundo, de gente que eu nem esperava, e foram muitos. Quando os cães revelam sua face, Deus nos envia uma legião de anjos. Fotos sorridentes em jornais, palavras apenas para constar, presenças obrigatórias em eventos sociais. Muitas situações podem nos enganar, é preciso ver além disso, tirar o véu que cobre todas as vontades ... Nem todos tem a Graça de conhecer aqueles que estão, literalmente, ao seu lado. Eu tive. Beijos, Márcia.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Despedindo da velha casa

Agora que as caixas estão cheias de nossas roupas e coisas, senti um pouco de pena de nós todos, de termos tantos volumes para carregar. Temos vivido assim, carregando tudo isso, para todos os lados que a vida nos manda. Somos meio como as tartarugas, como as anêmonas e por aí vai. O pior de tudo é olhar para todos nossos objetos desalojados, despejados de seus cotidianos lugares, como se não devessemos mais estar aqui. Precisei comprar estantes novas, pois os armários mostraram-se bem pequenos. Em compensação, nossa mobília ficou perdida, dançando numa sala imensa. E olha que temos mobília! Damos nosso último adeus a esta boa casa, onde fomos imensamente felizes. À jabuticabeira que plantei para daqui a dez anos, ao pé de manga que me proporcionou maravilhosos chutneys, às últimas frutas-do-conde da estação. Decidimos levar o fogãozinho á lenha, para lembrar dos almoços rodeados de amigos. Pode ser que nos aventuremos, ainda, quando estivermos bem instalados. Os cachorros nos olham, perdidos. Estão pelos cantos sem entender nada. Têm dormido no nosso quarto, com medo de serem esquecidos. Também eu estou como os cachorros, desde que decidi ficar. Sempre se leva um tempo para desacostumar os ouvidos aos ruídos de uma casa e este é o processo que iniciamos a partir de hoje, para liberá-los para as pessoas que vão morar aqui. Aos poucos, esquecemos o ranger dos portões, o barulho das folhas, das trancas, das maçanetas, das torneiras, do piso e do telhado, principalmente do telhado, nos dias raros em que venta e chove. Depois de tudo esquecido, é que temos espaço para absorver os novos ruídos, e só então nos sentiremos em casa. Beijos, Márcia

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Casa nova

Que estará reservado para nós nessa bela casa, jantares entre amigos, tardes preguiçosas na varanda, cafés da manhã dominicais na beira da piscina...amigos dos amigos sempre serão bem-vindos, também as crianças menores que virão fazer os deveres da escola, e ficarão o resto do dia para brincadeiras no quintal. Os mais velhos poderão fazer de lá um ponto de encontro, para distrair-se, antes de algum programa. Para assistir filmes, assar pizzas, cantar no karaokê. Eventualmente, algum estudo. Encheremos a casa de bichos, tartarugas, hamsters, patos, cães. Plantaremos algumas ervas aromáticas. Principalmente manjericão, para fazer o pesto. E alecrim, para assar os pães da tarde. Todos estão convidados, não haverá despedidas. Minha mudança começa amanhã... Beijos, Márcia.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Comidas gostosas

Confesso também que não tenho lido nada mais que revistas de culinária. Aprendi a fazer um omelete soufflé que é uma coisa, leva doze ovos, melhor que a receita original de La Mére Poulard. Nunca provei a famosa omelete, servida nesse restaurantezinho do monte Saint Michel, mas podem acreditar que um dia o farei, pois dizem ser o que há de melhor sobre a face da terra. Os meus sonhos são bem simples e prosaicos, pena que não sejam exatamente pertinho da minha casa... Jantamos essa incrível omelete acompanhada de uma saladinha verde, nozes e legumes e um tinto, cabernet-sauvignon, que não estava tendo muita saída ultimamente, aqui em casa. Amanhã farei figos cozidos no que restou dessa garafa, acompanhado de creme de ricota. E cuscuz marroquino, com shitake e limão siciliano, que aprendi com minha amiga e chef de cozinha Flávia Barbedo, que é de se comer ajoelhada. Só quero saber de Cláudia cozinha, Gula e Gourmet. E de balançar na rede, sem olhar as horas. Beijos. Márcia

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Confissão

Amados amigos, eu confesso: dois dos poemas publicados aqui em julho do ano passado são meus, Mil Linhas e Mar Guardado. Tive ( e ainda tenho) medo de que fossem terríveis, mas resolvi contar a verdade e assumir. Peço a compreensão, afinal tinha apenas quatorze anos quando os escrevi! Beijos, Márcia.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A moça na janela- uma história de Ouro Preto

Talvez algum amigo de Minas conheça a história das duas irmãs solteironas que viveram há muitos anos atrás, na cidade de Ouro Preto. Tenho até vergonha de ser clichê contando que uma delas chamava-se mariquinhas, mas é verdade! Viviam num casarão, que naquela época já era centenário, sempre a espiar pelas janelas, a saber de tudo o quanto acontecia na cidade. Mas pouca gente sabe a verdadeira história escondida por detrás da lenda. Eu conheço, pois as irmãs eram parentas da minha bisa Alice e ela me contou essa e outras histórias de família. Quem conhece Ouro Preto sabe o quanto essas histórias são comuns, contos que envolvem amores perdidos, desilusões, almas de outro mundo, porões com gritos de ex-escravos e coisas assim. Essa tataraparenta minha, ficou noiva de um rapaz muito bonito, dono de fazendas na região, e começou a terminar os preparativos do longo e lento enxoval, como era de costume na época. Tudo era caprichosamente feito e bordado á mão, pelas moças prendadas e sua família: toalhas, lençóis, camisolas, desde muito cedo. Depois, era cuidadosamente guardado em baús ou móveis gaveteiros próprios, com chave. Por ocasião do noivado, as moças de famílias distintas costumavam exibir o delicado enxoval às amigas e parentes, algo parecido com o nosso chá de panela moderno, no intuito de exibir o delicado trabalho. Havia a curiosa camisola-do-dia, imaculadamente branca, assim como imaculada devia ser a noiva, que além das rendas e laços, devia possuir, na altura do sexo, uma passagem conveniente em formato de cruz. Fico imaginando os dois noivos na noite de núpcias. A pobre coitada, apavorada, enfiada na medonha camisola e o noivo, vendo tudo aquilo e mesmo assim tendo que dar conta do recado. Isso sim, é a verdadeira pornografia. Mas voltemos à história. O fato é que o noivo, faltando semanas para o casamento, descobriu que tinha lepra e consternado, precisou adiar o casamento. Naquela época a hanseníase não era vista como hoje, muito menos existia cura. Mas através do quinino, algumas vezes conseguia-se algum milagre. O doente era afastado do convívio dos demais, em clínicas conhecidas como leprosários ou lazários. E o casamento precisou ser adiado. Todos os meses, cumpridas as recomendações e prescrições médicas, o paciente fazia exames para saber se estava ficando curado, e assim se passaram meses e meses. As cartas trocadas entre os noivos falavam de planos e eram encorajadoras. Finalmente, ele escreveu dizendo que estava curado, precisando apenas repetir o exame por mais uma vez e que ela devia dar os acabamentos no vestido de noiva. Alegre, a família marcou a data e reiniciou os preparativos, mas infelizmente, a contraprova deu positiva. O casamento foi novamente adiado e todo o tratamento médico reiniciado. Assim se passaram três longos anos de espera, literalmente, na janela. Por fim, as cartas escassearam-se, perderam o brilho e a esperança de cura. A noiva, na janela, sempre a esperar avistá-lo, chegando de muito longe, curado. Mas isso não aconteceu. Chegou notícia que ele morrera, e ela enlouquecida pela longa espera, vestiu-se de noiva e desceu, de noite, pelas ladeiras de Ouro Preto. Procurou por ele em todos os lugares, bateu em muitas portas, entrou em várias Igrejas. Por fim, trancou-se no casarão para nunca mais sair, necessitando da ajuda da irmã para as coisas relacionadas ao mundo exterior. Essa é a triste história por detrás da história da moça na janela, contada e repetida ainda hoje, pelos moradores das cidades históricas de Minas Gerais. Há quem diga que em algumas noites de chuva, é possível avistar minha tataraprima descendo as ladeiras, vestida de noiva, batendo nas portas e janelas. Quem já viu, jura que é verdade: não se sabe se o barulho é de choro, ou se o barulho é do vento. Márcia Taube

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Bagagem de férias

Estive viajando para visitar a familia e alguns amigos, fui ao Rio de Janeiro por poucos dias e à São Paulo, onde me reabasteci de livros, revistas, CD e DVDs de todos os tipos. Visitei um sebo no Flamengo, mais precisamente na Rua Buarque de Macedo, que de todos é o meu preferido, tem muitas coisas boas, livros raros, novos e semi novos. Os preços são excelentes, comprei por dez reais cada, dicionários de francês-português e português -francês, além de uma gramática da língua francesa, para facilitar minha vida aqui, pois o curso está cada dia mais puxado e já estou com medo de não estar a altura...mas desistir jamais! Além disso, tive a surpresa de deparar-me com um exemplar da Condessa de Ségur, e lembrei-me com muitas saudades de minha vó Yvone. Ela estudou em um colégio interno em Minas, destinado ás "moças de boa família", onde aprendiam a declamar em francês, latim, tocar piano e coisas do gênero. Foi expulsa de lá, pelas freiras, pois ao contrário de sua bem comportada irmã, fazia levadezas de todo o tipo, era um verdadeiro moleque de saias. Lembro-me dela, dizendo que minha tia-avó era uma verdadeira menina exemplar, a menina exemplar da Condessa de Ségur! Fiquei bem curiosa e comprei o livro, para saber o que era uma menina exemplar! Ainda nao descobri, mas assim que ler o livro eu conto! Pobre vovó, não deve ter sido fácil viver naqueles tempos! Comprei ainda Viagem ao Japão (concepção e tradução de Renata Cordeiro) e A Peste, de Albert Camus, este último para reler. Ganhei de minha mãe: O livro do Chá (Kakuzo Okakura), A Evolução da Escrita-História Ilustrada (Carlos M. Horcades) , A Marcha do Imperador( Luc Jacquet) e o belíssimo Caderno de Viagem de Jean-Batiste Debret. Para melhor apreciar as gravuras, comprei na Le Lis Blanc uma lupa grande e bem decorativa, com cabo de bambú. Meu pai me deu O Evangelho segundo o espiritismo (Allan Kardec), que eu já conhecia, mas sempre é bom reler. Não estando satisfeita, entrei numa livraria Siciliano e fiz um estrago: Apesar de não apreciar best-sellers, comprei Comer, rezar, amar (Elizabeth Gilbery) e o li em apenas dois dias, nas longas travessias entre estados, de volta ao Mato Grosso do Sul e confesso: achei o livro uma graça, despretencioso, leve, como um vinho branco gelado, que se bebe enquanto vamos preparando um almoçinho de domingo para a família. Levei também um livro sobre a vida de Elvis Presley( Unseen Archives), como se eu não a conhecesse de cor e salteado, além de alguns livros de arte e decoração parisiense, provençal e toscana. Comprei também um livro sobre cinema e sobre os maravilhosos abajures desenhados por Louis Tiffanys (adoro todos os detalhes da art-nouveau!) Muito bem, agora toda essa pilha de livros me espia, da estante do quarto. Amanhã começo a trabalhar, e agora? Beijos, Márcia