segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Despedindo da velha casa

Agora que as caixas estão cheias de nossas roupas e coisas, senti um pouco de pena de nós todos, de termos tantos volumes para carregar. Temos vivido assim, carregando tudo isso, para todos os lados que a vida nos manda. Somos meio como as tartarugas, como as anêmonas e por aí vai. O pior de tudo é olhar para todos nossos objetos desalojados, despejados de seus cotidianos lugares, como se não devessemos mais estar aqui. Precisei comprar estantes novas, pois os armários mostraram-se bem pequenos. Em compensação, nossa mobília ficou perdida, dançando numa sala imensa. E olha que temos mobília! Damos nosso último adeus a esta boa casa, onde fomos imensamente felizes. À jabuticabeira que plantei para daqui a dez anos, ao pé de manga que me proporcionou maravilhosos chutneys, às últimas frutas-do-conde da estação. Decidimos levar o fogãozinho á lenha, para lembrar dos almoços rodeados de amigos. Pode ser que nos aventuremos, ainda, quando estivermos bem instalados. Os cachorros nos olham, perdidos. Estão pelos cantos sem entender nada. Têm dormido no nosso quarto, com medo de serem esquecidos. Também eu estou como os cachorros, desde que decidi ficar. Sempre se leva um tempo para desacostumar os ouvidos aos ruídos de uma casa e este é o processo que iniciamos a partir de hoje, para liberá-los para as pessoas que vão morar aqui. Aos poucos, esquecemos o ranger dos portões, o barulho das folhas, das trancas, das maçanetas, das torneiras, do piso e do telhado, principalmente do telhado, nos dias raros em que venta e chove. Depois de tudo esquecido, é que temos espaço para absorver os novos ruídos, e só então nos sentiremos em casa. Beijos, Márcia

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Casa nova

Que estará reservado para nós nessa bela casa, jantares entre amigos, tardes preguiçosas na varanda, cafés da manhã dominicais na beira da piscina...amigos dos amigos sempre serão bem-vindos, também as crianças menores que virão fazer os deveres da escola, e ficarão o resto do dia para brincadeiras no quintal. Os mais velhos poderão fazer de lá um ponto de encontro, para distrair-se, antes de algum programa. Para assistir filmes, assar pizzas, cantar no karaokê. Eventualmente, algum estudo. Encheremos a casa de bichos, tartarugas, hamsters, patos, cães. Plantaremos algumas ervas aromáticas. Principalmente manjericão, para fazer o pesto. E alecrim, para assar os pães da tarde. Todos estão convidados, não haverá despedidas. Minha mudança começa amanhã... Beijos, Márcia.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Comidas gostosas

Confesso também que não tenho lido nada mais que revistas de culinária. Aprendi a fazer um omelete soufflé que é uma coisa, leva doze ovos, melhor que a receita original de La Mére Poulard. Nunca provei a famosa omelete, servida nesse restaurantezinho do monte Saint Michel, mas podem acreditar que um dia o farei, pois dizem ser o que há de melhor sobre a face da terra. Os meus sonhos são bem simples e prosaicos, pena que não sejam exatamente pertinho da minha casa... Jantamos essa incrível omelete acompanhada de uma saladinha verde, nozes e legumes e um tinto, cabernet-sauvignon, que não estava tendo muita saída ultimamente, aqui em casa. Amanhã farei figos cozidos no que restou dessa garafa, acompanhado de creme de ricota. E cuscuz marroquino, com shitake e limão siciliano, que aprendi com minha amiga e chef de cozinha Flávia Barbedo, que é de se comer ajoelhada. Só quero saber de Cláudia cozinha, Gula e Gourmet. E de balançar na rede, sem olhar as horas. Beijos. Márcia

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Confissão

Amados amigos, eu confesso: dois dos poemas publicados aqui em julho do ano passado são meus, Mil Linhas e Mar Guardado. Tive ( e ainda tenho) medo de que fossem terríveis, mas resolvi contar a verdade e assumir. Peço a compreensão, afinal tinha apenas quatorze anos quando os escrevi! Beijos, Márcia.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A moça na janela- uma história de Ouro Preto

Talvez algum amigo de Minas conheça a história das duas irmãs solteironas que viveram há muitos anos atrás, na cidade de Ouro Preto. Tenho até vergonha de ser clichê contando que uma delas chamava-se mariquinhas, mas é verdade! Viviam num casarão, que naquela época já era centenário, sempre a espiar pelas janelas, a saber de tudo o quanto acontecia na cidade. Mas pouca gente sabe a verdadeira história escondida por detrás da lenda. Eu conheço, pois as irmãs eram parentas da minha bisa Alice e ela me contou essa e outras histórias de família. Quem conhece Ouro Preto sabe o quanto essas histórias são comuns, contos que envolvem amores perdidos, desilusões, almas de outro mundo, porões com gritos de ex-escravos e coisas assim. Essa tataraparenta minha, ficou noiva de um rapaz muito bonito, dono de fazendas na região, e começou a terminar os preparativos do longo e lento enxoval, como era de costume na época. Tudo era caprichosamente feito e bordado á mão, pelas moças prendadas e sua família: toalhas, lençóis, camisolas, desde muito cedo. Depois, era cuidadosamente guardado em baús ou móveis gaveteiros próprios, com chave. Por ocasião do noivado, as moças de famílias distintas costumavam exibir o delicado enxoval às amigas e parentes, algo parecido com o nosso chá de panela moderno, no intuito de exibir o delicado trabalho. Havia a curiosa camisola-do-dia, imaculadamente branca, assim como imaculada devia ser a noiva, que além das rendas e laços, devia possuir, na altura do sexo, uma passagem conveniente em formato de cruz. Fico imaginando os dois noivos na noite de núpcias. A pobre coitada, apavorada, enfiada na medonha camisola e o noivo, vendo tudo aquilo e mesmo assim tendo que dar conta do recado. Isso sim, é a verdadeira pornografia. Mas voltemos à história. O fato é que o noivo, faltando semanas para o casamento, descobriu que tinha lepra e consternado, precisou adiar o casamento. Naquela época a hanseníase não era vista como hoje, muito menos existia cura. Mas através do quinino, algumas vezes conseguia-se algum milagre. O doente era afastado do convívio dos demais, em clínicas conhecidas como leprosários ou lazários. E o casamento precisou ser adiado. Todos os meses, cumpridas as recomendações e prescrições médicas, o paciente fazia exames para saber se estava ficando curado, e assim se passaram meses e meses. As cartas trocadas entre os noivos falavam de planos e eram encorajadoras. Finalmente, ele escreveu dizendo que estava curado, precisando apenas repetir o exame por mais uma vez e que ela devia dar os acabamentos no vestido de noiva. Alegre, a família marcou a data e reiniciou os preparativos, mas infelizmente, a contraprova deu positiva. O casamento foi novamente adiado e todo o tratamento médico reiniciado. Assim se passaram três longos anos de espera, literalmente, na janela. Por fim, as cartas escassearam-se, perderam o brilho e a esperança de cura. A noiva, na janela, sempre a esperar avistá-lo, chegando de muito longe, curado. Mas isso não aconteceu. Chegou notícia que ele morrera, e ela enlouquecida pela longa espera, vestiu-se de noiva e desceu, de noite, pelas ladeiras de Ouro Preto. Procurou por ele em todos os lugares, bateu em muitas portas, entrou em várias Igrejas. Por fim, trancou-se no casarão para nunca mais sair, necessitando da ajuda da irmã para as coisas relacionadas ao mundo exterior. Essa é a triste história por detrás da história da moça na janela, contada e repetida ainda hoje, pelos moradores das cidades históricas de Minas Gerais. Há quem diga que em algumas noites de chuva, é possível avistar minha tataraprima descendo as ladeiras, vestida de noiva, batendo nas portas e janelas. Quem já viu, jura que é verdade: não se sabe se o barulho é de choro, ou se o barulho é do vento. Márcia Taube

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Bagagem de férias

Estive viajando para visitar a familia e alguns amigos, fui ao Rio de Janeiro por poucos dias e à São Paulo, onde me reabasteci de livros, revistas, CD e DVDs de todos os tipos. Visitei um sebo no Flamengo, mais precisamente na Rua Buarque de Macedo, que de todos é o meu preferido, tem muitas coisas boas, livros raros, novos e semi novos. Os preços são excelentes, comprei por dez reais cada, dicionários de francês-português e português -francês, além de uma gramática da língua francesa, para facilitar minha vida aqui, pois o curso está cada dia mais puxado e já estou com medo de não estar a altura...mas desistir jamais! Além disso, tive a surpresa de deparar-me com um exemplar da Condessa de Ségur, e lembrei-me com muitas saudades de minha vó Yvone. Ela estudou em um colégio interno em Minas, destinado ás "moças de boa família", onde aprendiam a declamar em francês, latim, tocar piano e coisas do gênero. Foi expulsa de lá, pelas freiras, pois ao contrário de sua bem comportada irmã, fazia levadezas de todo o tipo, era um verdadeiro moleque de saias. Lembro-me dela, dizendo que minha tia-avó era uma verdadeira menina exemplar, a menina exemplar da Condessa de Ségur! Fiquei bem curiosa e comprei o livro, para saber o que era uma menina exemplar! Ainda nao descobri, mas assim que ler o livro eu conto! Pobre vovó, não deve ter sido fácil viver naqueles tempos! Comprei ainda Viagem ao Japão (concepção e tradução de Renata Cordeiro) e A Peste, de Albert Camus, este último para reler. Ganhei de minha mãe: O livro do Chá (Kakuzo Okakura), A Evolução da Escrita-História Ilustrada (Carlos M. Horcades) , A Marcha do Imperador( Luc Jacquet) e o belíssimo Caderno de Viagem de Jean-Batiste Debret. Para melhor apreciar as gravuras, comprei na Le Lis Blanc uma lupa grande e bem decorativa, com cabo de bambú. Meu pai me deu O Evangelho segundo o espiritismo (Allan Kardec), que eu já conhecia, mas sempre é bom reler. Não estando satisfeita, entrei numa livraria Siciliano e fiz um estrago: Apesar de não apreciar best-sellers, comprei Comer, rezar, amar (Elizabeth Gilbery) e o li em apenas dois dias, nas longas travessias entre estados, de volta ao Mato Grosso do Sul e confesso: achei o livro uma graça, despretencioso, leve, como um vinho branco gelado, que se bebe enquanto vamos preparando um almoçinho de domingo para a família. Levei também um livro sobre a vida de Elvis Presley( Unseen Archives), como se eu não a conhecesse de cor e salteado, além de alguns livros de arte e decoração parisiense, provençal e toscana. Comprei também um livro sobre cinema e sobre os maravilhosos abajures desenhados por Louis Tiffanys (adoro todos os detalhes da art-nouveau!) Muito bem, agora toda essa pilha de livros me espia, da estante do quarto. Amanhã começo a trabalhar, e agora? Beijos, Márcia