sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O Amor nos Tempos do Cólera

"Florentino Ariza estremeceu: com efeito, e ela própria dissera, tinha o cheiro azedo da idade. No entanto, enquanto andava para seu camarote, abrindo caminho entre o labirinto de redes adormecidas, consolava-se com a idéia de que ele devia ter o mesmo cheiro, só que quatro anos mais velho, e que ela sem súvida o sentira com a mesma emocão. Era o cheiro dos fermentos humanos, que ele perebera nas amantes mais antigas, e que elas tnham sentido nele. A viúva de Nazareth, que não guardava nada para si, tinha dito a ele de modo mais cru:"Já temos cheiro de urubú." Cada um suportava o cheiro do outro, porque estavam à mão: meu cheiro contra o seu. Em compensacão, muitas vezes pensava no caso de América Vicuña, cujo cheiro de fraldas descartáveis despertava nele os instintos maternais, enquanto o inqietava a idéia de que ela não pudesse aguentar o seu: seu cheiro de velho verde." Nessa já consagrada obra, o autor nos relata a espera de cinquenta e três anos, sete meses e onze dias para a concretizacão dessa estória de amor comovente. Enquanto viaja pela beleza das primeiras descobertas, do amor á primeira vista, constrói seus personagens com uma humanidade desconcertante. Revolve seus pensamentos mais secretos, deixando-os desamparados. Mostra a fragilidade da vida, dos percalcos do envelhecer, mas sempre com uma mensagem de esperanca para o amor. Surpreende o leitor, na percepcão de que os sentimentos não acompanham a decrepitude física de seus personagens. Passada em Cartagena,deixa rastros pela rua das janelas, portais e pracas,que recentemente conheci. Relendo a obra de Garcia Marques, aos poucos vou assentando todas as lembrancas, como quem se despede, aos poucos, de um amigo muito querido. Infelizmente, o filme não lhe faz juz. Apesar de Javier Barden e da fabulosa Fernanda Montenegro, ficou muito longe da essência dos escritos. Para quem quiser conferir, o trailer:

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