quarta-feira, 1 de junho de 2011

A ERA DOS IMPÉRIOS (1875-1914)




A ERA DOS IMPÉRIOS (1875-1914)
AUTOR: ERIC J. HOBSBAWN

Neste livro, o autor aborda o período histórico compreendido entre a Revolução Industrial e a Primeira Guerra Mundial, elencando as transformações que ocorreram no mundo, desde as sociedades industrializadas, denominadas “desenvolvidas”, em contraposição às demais.

CAPÍTULO 1
A REVOLUÇÃO CENTENÁRIA
Em 1880, no centenário da Revolução Francesa, o mundo já era praticamente todo conhecido e mapeado. O mundo estava pouco a pouco tornando-se global . A ferrovia e a navegação a vapor haviam encurtado as distancias intercontinentais. O telégrafo transmitia informações de uma parte do mundo a outro, em poucas horas. O mundo era densamente povoado, em primeiro lugar pelos asiáticos e em segundo lugar pelos europeus.
No entanto, cada vez mais as realidades eram distantes e caminhavam para a divisão das sociedades entre industriais, consideradas desenvolvidas e as demais.
Hobsbawn coloca que a defasagem entre o Primeiro mundo e os demais e o Terceiro mundo começou cedo, e aponta a tecnologia como uma das principais causas dessa diferença, uma vez que a acentua de forma econômica e política. A revolução Industrial favorece a desigualdade, na medida em que empresta um maior poderio bélico às nações mais economicamente favorecidas, determinando qual posição ocupará nesse sistema global.
Além disso, relata que o Primeiro Mundo era portador de uma história comum e possuía semelhantes estágios de desenvolvimento econômico, apesar das diferenças internas, enquanto que o Terceiro e o Segundo Mundo, não possuíam laços históricos, nem culturais, nem institucionais, nem em sua estrutura social se assemelhavam.
Mais difícil ainda era estabelecer limites concretos entre as fronteiras destes Estados. A Europa, era constituída não apenas pelas regiões que a formavam, mas principalmente levando-se em conta o desenvolvimento capitalista dessas regiões. Englobava as regiões que tiveram um papel importante durante o desenvolvimento do capitalismo, os primeiros conquistadores ultramarinos (representados por Portugal e Espanha) e os descendentes do Império Romano.
Grandes extensões da Europa ainda estavam fora do eixo de desenvolvimento capitalista, gerando um estranhamento cultural muitas vezes dentro de um mesmo país, como era o caso dos italianos do norte, industrial, com relação aos do sul.
Outros países, como a Rússia, ficavam no limite da questão. Seria mais européia que asiática na medida em que seus governantes empenhavam-se em investir nas indústrias, apesar de possuir vastas extensões territoriais, cujos habitantes estavam de tal forma distantes da cultura, que pareciam viver em outro século.
Além do critério de industrializacão utilizado para definir a parcela de desenvolvimento de uma nação, a urbanização também serviu de parâmetro. O mundo civilizado era organizado em cidades que, pouco a pouco, iam tomando conta dos campos que as cercavam.
A sociedade burguesa européia ditava os costumes e era a responsável pelas transformações intelectuais. A cultura da elite, representada pela biblioteca e pelo museu, foi estendido a toda a população, como uma exigência do liberalismo, mas estava articulada com os interesses das classes dominantes.
Em termos políticos, um país “avançado” deveria seguir um padrão previamente determinado e que quase não permitia variações. Por exemplo, deveria ser um Estado de direito, com uma constituição única e cujos habitantes desfrutassem de certos direitos políticos e jurídicos básicos, entre outros.
Seus habitantes também deveriam se enquadrar aos critérios liberais burgueses, com indivíduos “juridicamente livres e iguais”. Em alguns países, tais como Brasil e Cuba, a escravidão legal ainda existia, muito embora vivesse seus derradeiros anos.
Assim, as diferenças entre os mundos pareciam cada vez mais visíveis, uma vez que uma grande parcela do mundo considerado ”atrasado”não partilhava das mesmas divisões políticas territoriais. Não possuíam Estados, e para alguns, nem esse termo seria aplicável às suas unidades políticas. Alguns eram compostos de colônias de potências européias, ou antigos impérios, tais como a China, a Turquia ou a Pérsia.
No entanto, era na cultura da população que residia a maior diferença entre os dois mundos. O grau de alfabetização crescente dos ditos países desenvolvidos contrapunha-se em grande parte ao que era, então, à parcela menos favorecida do mundo, em que um menor grau de urbanização estava diretamente relacionado ao predomínio do analfabetismo.
O século XIX foi marcado pela necessidade de transformações de tal forma, que o índice de progresso de uma nação podia ser mesurado por sua capacidade de produção material, bem como do desenvolvimento de seus meios de comunicações.
A tecnologia moderna começou a ser “visível”, apresentando-se ao povo, através das locomotivas, dos telégrafos e dos navios a vapor. Além disso, outros avanços tecnológicos permitiram a invenção das turbinas, dos motores de combustão interna, do telefone, do gramofone, da lâmpada elétrica, do automóvel, do cinematografo , da aeronáutica e da radiotelegrafia.
À época, o impacto dessas invenções na sociedade era de difícil previsão, uma vez que mesmo na dita parcela desenvolvida do mundo, a distribuição de renda para o consumo era desigual. No ano de 1870, cerca de 80% da população era composta pela classe trabalhadora, contra 3,5% de ricos e aproximadamente 14% , pela classe média.
A expectativa de vida média acabou tornando-se maior, e as taxas de mortalidade infantil entraram em declínio. Mesmo assim, o “progresso”não era percebido da mesma forma nas diversas partes do mundo.
De acordo com Hobsbawn “o progresso fora dos países avançados não era um fato óbvio nem uma suposição plausível, mas sobretudo um perigo e um desafio estrangeiros”. Isso porque ia de encontro, muitas vezes, com os hábitos e costumes arraigados das populações, o que de certa forma, podia ser considerado como uma intromissão, uma nova forma de dominação estrangeira.
Perigosamente, uma nova idéia começa a tomar forma. A recusa (ou impossibilidade) da maioria dos habitantes do mundo em viver de acordo com as novas regras impostas pela parcela ocidental burguesa, acabou sendo interpretada como um sinal de fraqueza.
Uma enorme parcela da humanidade foi considerada biologicamente incapaz de realizar aquilo que aos europeus parecia fácil. A desigualdade social foi justificada através da biologia, em que o conceito de raça superior começou a tomar forma.
Nas repúblicas da América Latina, esse pensamento refletiu-se de uma maneira muito curiosa. Os políticos e ideólogos abraçando a idéia de superioridade genética, concluíram que a chave do progresso residia justamente no branqueamento populacional progressivo.

4 comentários:

  1. um bem interessante vou ler sempre que tiver tempo

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  2. Amei o texto, vai me ajudar na elaboraçao da minha fala na apresentaçao de hj sobre Mark Twain, deu para compreender bem o periodo!! parabenss

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  3. O preconceito cria raízes e passa por um processo de construção via poder.

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  4. O preconceito cria raízes e é construído via poder.

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