sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Paganini, o gênio de incomparável feiúra

Paganini, o incomparável violinista genovês, era de uma feiúra incomum, assustadora mesmo, cujo talento só fazia realçar. Certa vez, numa apresentação em Livorno, subiu ao palco manqueteando de uma perna, pois pisara num prego minutos antes. Para deleite geral, esbarrou na estante de partituras e espatifou um castiçal, a sala explodiu em gargalhadas. Feio como ninguém, com rosto magro, descarnado, nariz adunco, cabelos desgranhados, começou a tocar e rompeu-se uma corda. Uma tempestade de vaias sucedeu-se. Sem prestar atenção ao redor, continuou executando o recital com as três cordas que restavam, com tal ardor, imensa maestria, que ao final da apresentação, todos os presentes, estupefactos, aplaudiram de pé. Niccolò Paganini, aliás, ciente de sua feiúra imensa, tratava de adorná-la com uma sobrecasaca preta, que chegava até os pés e ousava comparecer ás cerimônias religiosas não apenas tocando, mas também parecendo-se fisicamente com o diabo, não tardou a ficar conhecido por ter parte com ele. No entanto, compunha obras sacras. Também não lhe favorecia o fato de que adorava acabar com as missas, através da execução de peças com assombrosa técnica, como numa Cerimônia na Catedral de Lucca, onde iniciou um concerto ao violino imitando pássaros, flautas, coro de anjos, trompas celestes ,etc. Diante da platéia estupefacta, manejou o arco com tal virtuosismo, que a missa acabou, pois ninguém conseguia concentrar-se em mais nada. Era comum romperem-se as cordas, pois tocava, de fato como um endiabrado, passional, alheio á tudo a seu redor. Em outra oportunidade, em um concerto em homenagem à irmã de Napoleão Bonaparte, romperam-se a segunda e terceira cordas. Como se não fosse nada, continuou tocando com as duas que sobraram, com tal virtuose que a platéia ficou boquiaberta. A princesa Elsa perguntou-lhe se uma corda bastaria para seu talento e ele demonstrou-lhe que sim, tocando quatro dias depois uma sonata composta para uma única corda, a sonata "Napoleão"! Paganini foi um anjo de talento incomparável. Seu modo agressivo de tocar, suas caretas, sua personalidade difícil, sua feiúra incomum, seus trajes estranhos ajudaram a criar a lenda que em certo cemitério na França, a aparição de um fantasma tocando violino, de uma forma que nenhum ser humano poderia fazer, adquiriu força e caiu no imaginário popular.Vários fantasmas idênticos ,rapidamente espalharam-se pela europa, após a morte do compositor, todos vestidos de sobrecasaca preta. Foi necessário exumar o corpo do falecido, trasladá-lo até a Itália, por concessão especial do Papa. Só assim, 56 anos depois de sua morte, o tal fantasma paganiniano sossegou. No entanto, muitas bandas ainda hoje imitam seu estilo, em especial as de rock pesado, onde o vestuário escuro, o modo de usar a cabeleira e até mesmo o gesto formado pelo indicador e o mínimo levantados, imitam inadvertidamente, o modo como tocava o mestre. Quantas bandas de rock já ouvimos, conhecidas por terem parte com o diabo? É o passado e o presente, se encontrando... Márcia Taube

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