quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O MONOFISISMO: A NÃO ENCARNACÃO DO VERBO

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai. "
(João 1:1,2,3,14 )


Doutrina variante do docetismo, foi determinante para a história do império bizantino e da cidade de Constantinopla. Floresce entre os séculos II e III, afirmando que Cristo não encarnou como preconiza a Bíblia, e sim assumiu uma aparência humana, como se fora um simulacro divino, uma espécie de ilusão, para apresentar-se diante dos olhos humanos. Portanto, a natureza de Deus seria única, jamais tendo tornado-se carne, afrontando o preceito da Santissima Trindade.

Tal doutrina foi um entrave nas tentativas de unificação religiosa do Estado por Justiniano entre os impérios orientais e ocidentais. Embora combatido pelo imperador, encontrava dificuldades na própria imperatriz Teodora, que era simpatizante do monofisimo.

Entre os séculos V e VII, em pleno período de invasões árabes, verificou-se que as populações que professavam o credo monofisita preferiam render-se aos invasores que continuar submetendo-se a opressão de Constantinopla.

A situação diplomática entre Constantinopla e a cidade de Alexandria, que professava o credo monofisita, era difícil, ainda mais quando a segunda abastecia a primeira de grãos, sendo considerada o celeiro do Mediterrâneo.

As implicações políticas também eram consideráveis. De um lado, os ricos monofisistas, que se desenvolviam de maneira independente em relação à Igreja Católica, de outro a hierarquia eclesiástica, que por sua vez estava envolvida na questão das disputas pela primazia religiosa de Roma contra a superioridade militar de Constantinopla.

Não podemos ainda nos esquecer que desde 392, Teodósio havia transformado o cristianismo em religião do império e assimilado as feições divinas ao titulo de imperador, gerando conflitos com a Igreja católica romana, cujo papa era o representante oficial de Deus na terra.

Apesar das tentativas que perduraram por mais de três séculos, de Constantino a Justiniano, em resolver tais conflitos, cai por terra a idéia de um império Romano do Oriente durante a dinastia de Heráclito (610-641), que o transforma paulatinamente em um Império grego do Oriente, distanciando-se ainda mais de uma possível unificacão.

A coroação de Carlos Magno pelo papa Leão III, no ano de 800, consagrando-o imperador dos romanos, desandou de vez as relações entre as partes oriental e ocidental e deflagrou toda a sorte de conflitos, cujas tentativas de resolução tornaram-se ainda mais desastrosas através de um casamento arranjado entre o imperador eleito pelo papa e a bizantina Irene.

Todas as condições para a Cisma do Oriente, que ocorreriam em 1054, estavam já presentes.



FONTE DE PESQUISA: Revista Historia Viva, ANO II, N 23, Duetto Editorial.

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